Profa. Ariane da Cunha Silvério Sardinha
 
 
Frequentemente temos nos deparado com o termo “Déficit de Aprendizagem”. Ele surge em relatórios, laudos, pareceres e até mesmo em conselhos escolares. No entanto é necessário compreender o que significa Déficit. Nem sempre um déficit é considerado transtorno ou distúrbio, como muitos acreditam. Déficit significa uma dificuldade leve, moderada ou severa. Aos casos leves consideramos dificuldade de aprendizagem ocasionada por problemas emocionais, sociais, processuais (puberdade ou adolescência) ou o do próprio currículo escolar inadequado. Os primeiros sintomas surgem no ambiente escolar. É na escola que os déficits aparecem, pois é ali que a aprendizagem sistemática se dá. Necessário, nesta hora, observar com atenção os encaminhamentos que serão realizados para cada situação observada. Exemplificando: O sujeito passou a apresentar notas baixas, desmotivação, desinteresse e o motivo/hipótese seria a mudança de cidade, perda dos amigos, professores e ambiente em que era feliz. Neste caso, a avaliação psicopedagógica confirmará se realmente o déficit de aprendizagem é consequência de situações emocionais ou situacionais. Ultrapassado esse estado de tristeza, provocado pela mudança, esse indivíduo com satisfatório nível cognitivo passa a ter mais assiduidade escolar, participa com maior interesse das aulas e sente-se parte do novo ambiente, resultando em um aluno com melhores notas e crescente nível de aprendizado. Para isso é necessário sensibilidade da equipe pedagógica, para acolher esse aluno. Após avaliação psicopedagógica diagnóstica o especialista orientará adequadamente a família e escola e esse indivíduo não carecerá de intervenção/tratamento psicopedagógico, e sim apenas de orientações.
Aos casos de déficit de aprendizagem moderado, incluso ao transtorno de aprendizagem, tipificado pelo DSM V e CID 10, caracterizado pela interferência em uma ou mais áreas do desenvolvimento, provocando sofrimento ao indivíduo. Esses déficits de aprendizagem apresentam causas neurológicas e os indivíduos apresentam nível intelectual na média inferior, média ou média superior. Ou seja, devemos excluir uma deficiência intelectual, pois caso exista, o déficit é devido a isto. À luz das pesquisas atuais observamos que “De acordo com as estatísticas disponíveis, de 10% a 15% da população mundial sofre de dislexia (LOPES, 2005, p.61)”. A dislexia, apesar de ser um mal, não impede que os indivíduos que a possuem sejam pessoas normais e com sucesso. Temos exemplos de disléxicos famosos, exemplifica Bergamo (2005, p. 105): a escritora Agatha Christie que “[…] ditava seus textos para uma datilógrafa”; o físico Albert Einstein que “[…] tinha problemas de memória e só aprendeu a ler aos nove anos” e o desenhista Walt Disney que “[…] tinha dificuldade para ler e escrever e durante muito tempo se sentiu um ‘incapaz”. E segundo o DSM IV-TR aproximadamente 40% da população mundial apresenta déficit de aprendizagem devido a transtornos de aprendizagem, que gera um número significativo de evasão escolar e baixa-estima nestes indivíduos, que mesmo inteligentes intelectualmente apresentam dificuldade para aprender e desenvolver leitura, escrita e cálculos. No caso do transtorno de leitura, conhecido como dislexia, a área do cérebro que não é ativada é lobo occipital, responsável por receber estímulos visuais provenientes da retina, onde ocorre a identificação da letra.
Quando falamos de déficits de aprendizagem severos, estamos diante de um quadro de síndrome ou deficiência intelectual, que mesmo leve neste último, prejudica significativamente o aprendizado acadêmico do indivíduo, no caso das síndromes que são um conjunto de características no aspecto global do indivíduo, que podem ou não estar associadas a nível intelectual, por ex: down, X-frágil apresentam dentro da síndrome a deficiência intelectual e são casos mais severos. Já na deficiência intelectual onde existe também o déficit de aprendizagem leve, moderado, severo ou profundo é necessário uma avaliação diagnóstica de equipe multiprofissional para direcionar o melhor tratamento com estimulação cognitiva. É preciso que a equipe que acompanha o indivíduo compreenda estes fatores, para posteriormente a avaliação possa, adequadamente orientar os professores que trabalham com estes alunos. Quando estamos diante de um quadro onde a deficiência intelectual existe é preciso compreender alguns aspectos neurológicos que envolvem a aprendizagem. O lobo/lóbulo frontal é onde se dá a área intelectual, raciocínio lógico e abstração, áreas prejudicadas nestes indivíduos, onde também no hemisfério esquerdo desenvolve-se a fala, ou seja primeiras palavras, futuras frases e organização do pensamento através da fala, e é preciso que exista essa compreensão tanto por parte de especialistas, quanto dos docentes que trabalham com esse aluno.
Em todos os casos citados, percebemos que o déficit de aprendizagem prejudica o desenvolvimento acadêmico do aprendente, mas que a partir do diagnóstico adequado as probabilidades de uma melhora no quadro do sujeito é real, basta conhecimento e compromisso de todos os envolvidos.
 
LOPES, Áurea. Será que seu aluno é disléxico? Nova Escola. São Paulo, p. 60-62, dez. 2005.
Classificação de Transtornos mentais e de Comportamento da CID-10:Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas – Coord. Organiz. Mund. Da Saúde; trad. Dorgival Caetano. – Porto Alegre: Artmed, 1993.

 

DSM-IV-TR – Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Trad. Claudia Dornelles; – 4. Ed. Ver. – Porto Alegre: Artmed, 2002. 

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